Medicamentos para emagrecer devem ser usados no tratamento da obesidade? Ou a obesidade é apenas uma escolha de estilo de vida e não deve ser tratada como doença?
A obesidade assim como a hipertensão e o diabetes são doenças crônicas, progressivas e de difícil controle. A base do tratamento da maioria das doenças crônicas engloba dieta e atividade física. Entretanto, apesar das modificações alimentares e do estilo de vida, a maioria dos pacientes não atinge um controle adequado, sendo necessário o uso de medicamentos, seja no diabetes, na “pressão alta” ou na obesidade.
Existe preconceito no tratamento da obesidade?
No tratamento das doenças crônicas, como a hipertensão, quando a “pressão alta” é confirmada, o paciente rapidamente começa a fazer uso de medicamentos pra controla-la. No caso do diabetes, o tratamento medicamentoso é ainda mais precoce, sendo indicado ainda na fase do pré-diabetes. Existe preconceito contra o uso de medicamentos para o controle da pressão alta? E contra medicamentos para o controle do diabetes? A resposta é não! Quando alguém toma conhecimento que um amigo está diabético ou hipertenso, fica consternado com a situação e em momento algum “desaprova” ou julga aqueles que buscam controlar suas doenças por meio dos remédios.
E no caso das pessoas que sofrem de obesidade?
Quando um paciente obeso não consegue controlar seu peso com mudanças do estilo de vida, dieta e atividade física, o uso de medicamentos para emagrecer pode estar indicado (da mesma forma que no diabetes ou na pressão alta). Mas ao contrário do tom de consternação, os pacientes que precisam desses medicamentos antiobesidade passam a ser julgados e estigmatizados.
É curioso que pacientes obesos que não atinjam um peso saudável com dieta e atividade física sejam privados do tratamento com medicamentos para emagrecer por uma questão puramente cultural e não científica.
Essa cultura que para emagrecer é só “fazer dieta e atividade física” é tão arraigada na sociedade que alguns pacientes com indicação de tratamento medicamentoso se negam a usa-los por medo da desaprovação da família ou de amigos. Esse receio por parte dos pacientes é até compreensível pois até mesmo alguns médicos recomendam condutas que não estão de acordo com as evidências científicas atuais: “tenha mais força de vontade”, “é só fechar a boca”, “você tem que deixar de ser preguiçoso”, são exemplos das recomendações típicas que só atrasam e agravam a saúde dos pacientes.
Por que seguir as recomendações científicas para algumas doenças e para outras não? Isso faz sentido? Ou é fruto da crença que a pessoa com obesidade escolheu estar assim? O desconhecimento e o preconceito têm privado milhões de pessoas obesas do tratamento adequado.
“Dr., e quando eu parar de usar os medicamentos para emagrecer? Vou engordar?”.
Em alguns casos, quando a obesidade tem uma causa identificável e reversível, o paciente poderá evitar o reganho de peso, sobretudo se mantiver a dieta e à atividade física. Porém, da mesma forma que um paciente diabético ou hipertenso que suspende seus medicamentos descontrola seus níveis de glicose e pressão, um paciente obeso que abandona seu tratamento tende a voltar a acumular gordura.
Doenças crônicas exigem tratamento por toda a vida. Suspender o medicamento antiobesidade de um paciente obeso pode ser semelhante a suspender a insulina de um paciente diabético.
É preocupante que pacientes com níveis graves de obesidade cheguem a essa condição sem nunca terem sido adequadamente medicados. O tratamento não é só fechar a boca. O tratamento não é apenas fazer atividade física.
Dizer ao paciente para apenas “comer menos e se movimentar mais” reforça a idéia que a obesidade é uma escolha de estilo de vida resultante da preguiça e da alimentação sem critérios e isso não é coerente com as evidências científicas atuais.
Isso precisa mudar.
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Você sabe por que engordamos?